Que tipo de historiador é você?

Se você, por acaso, é daquele historiador ou historiadora que pensou mais de 3 minutos para responder essa pergunta saiba que você pode ser considerado uma pessoa pouco confiável por aquele que a respondeu nos primeiros 3 segundos.
Se estivessem frente a frente, certamente, o historiador resoluto dos três segundos estaria olhando para você, com certo riso irônico, no canto esquerdo da boca, pensando: “deve ser um pós-moderno relativista destruidor da história”. Por outro lado, você, historiador relutante dos 3 minutos, talvez pudesse estar também o observando com um claro enfado no olhar e imaginando: - “no mínimo é uma marxista hard core perdido no tempo”.
Claro, há inúmeras outras cenas possíveis para imaginarmos a resposta a essa pergunta. Inúmeras outras formas de resolução e relutância.
(Cena? Imaginação? Santo Deus! Será que sou pós-moderna?)
Nas minhas aulas de introdução, meus alunos mais cedo ou mais tarde, sempre me fazem a pergunta: “- Professora, de qual concepção a senhora é”.
Prefiro não responder e peço para que eles mesmos digam, afinal, a disciplina é para esse exercício de reflexão. Contudo, devo admitir que é um tanto difícil uma definição fechada, porque a partir de um dado momento, passei a me sentir incomodada em ser uma historiadora possuída por alguma concepção. Acho que possessão é um bom termo para definir algumas posturas que vemos por ai, nos dias de hoje.
Tenho medo dos historiadores possuídos. Eles quase sempre são irascíveis em relação aos seus lugares teóricos e, sobretudo, intolerante em relação aqueles que não se enquadram em seus mesmos paradigmas. O Brasil é um lugar de muitas possessões, ou para quem ache melhor de muitos domínios da história.
Devo ser uma historiadora relutante, no final das contas.
Reluto!
Luto contra as intransigências conceituais de nosso campo; (re)luto por uma história que se abra ao diálogo verdadeiro com outras áreas... Luto e reluto para que em nosso país, novos centros de discussão possam surgir.
Que tipo de historiadora eu sou?
Quando entrei na faculdade, carregava o peso da busca da verdade nas costas, talvez o fardo da história preso em meu sapato. É assim que a história era (e talvez ainda seja) ensinada na educação básica. Nos primeiros semestres, mergulhei no processo que nos levaria a um futuro glorioso e seguramente planejado por nós. Depois descobri que tudo era história, dos galinheiros aos namoros nas esquinas! Mas, que o que importavam eram as experiências.
Hoje?
Bem, felizmente, sei tudo isso importou para que eu me tornasse a historiadora que sou, acho que afinal, venho conseguido superar todas as possessões e exorcizá-las a tempo de deixarem em mim somente o discernimento para saber que a história deve nos despertar, sobretudo, a sensibilidade.
A melhor reflexão teórica sobre o mundo é aquela que se reconhece como teoria. A vida, o tempo, homens e mulheres só cabem em nossas dissertações, livros e teses em uma porção muito ínfima, somente até onde nos é possível imaginar-lhes a vida através dos rastros que nos deixaram.

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