A QUEM PERTENCE A HISTÓRIA?





Fui a um evento no qual, alguns de nós, historiadores de ofício, defendiam o fato de que, "eles" (no caso os jornalistas) estavam rivalizando conosco, competindo com versões "pouco" confiáveis da História. Veio-me então a seguinte questão: qual o ponto seguro para uma história confiável? Tomemos um exemplo recente: qual a melhor versão apresentada sobre a queda do World Trade Center? A dos norte-americanos ou a dos países árabes? A quem pertence o prédio que não existe mais? Será possível dizer quem tem mais direito sobre os usos do passado? O que me levou à segunda questão: O que faz um evento se tornar histórico em nossos dias? Certamente, não somente o fato de ter acontecido. Se assim fosse, mergulharíamos no mundo de Funes, o memorioso, personagem magistral de Borges, para o qual tudo era impossível esquecer. 

Mas afinal, se todo fosse histórico, conseqüentemente, nada seria. 

Sobre os escombros do prédio, ergueu-se um monumento muito maior e mais duradouro que suas paredes: o acontecimento histórico do 11 de setembro de 2001. Acontecimento complexo, tenso e conflitante que, teve como característica principal dar-se aos nossos olhos no exato momento de sua “acontecência” através dos meios de comunicação. Uma narrativa caótica e surpreende, mas que, ao mesmo tempo, ajudou a compor-lhes vários significados que continuam em disputa cotidianamente. Associados a eles, muitos outros sentidos ainda lhes serão tecidos, inclusive pela escrita historiográfica. Isso nos leva a refletir que para pensar sobre os acontecimentos históricos em nossos dias é necessário considerarmos uma séria de novos agentes que interferem profundamente nas próprias formulações sobre o passado no presente. Lugares variados com os quais o historiadores têm que aprender a dialogar. Que critiquemos o lugar social, ideológico ou as posições conservadoras que podem advir de tais recursos é válido - não esquecendo que na própria históriográfia tal exercício é necessário. Que queiramos ou não, através dos meios de comunicação diariamente também se produz conhecimento histórico, não somente isso, difundem-se idéias e significados históricos que interferem profundamente na sociedade contemporânea.

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