A humanidade ainda precisa dos historiadores?


Sendo historiadora pode parecer estranho iniciar um texto com uma questão quanto à necessidade ou não dos historiadores no mundo contemporâneo. É provável que a resposta a esta pergunta se apresente como uma imediata contundência afirmativa para todos os historiadores que iniciarem a leitura, afinal, qual de nós colocaria em xeque a importância de sua atuação na sociedade da qual fazemos parte? Embora esteja tentada a desde já embalar o coro corroborando com tal afirmativa, vou ousar realizar um exercício de advogada do Diabo.

Qual o papel que realizamos na sociedade nos dias de hoje? Até que ponto a história que produzimos é consumida fora de nossa academia? O que afinal, é ser historiador em nossos dias quando há tantos lugares e vozes a se pronunciarem em nome da história?

Primeiro, acho essa dispersão de olhares e falas algo positivo, a meu ver, ninguém é dono da história, a ponto de ser a única voz autorizada a falar sobre o passado, contudo, issoapresenta grandes desafios ao nosso ofício nessa entrada de um novo século. Sobretudo, porque nos obriga a pensar como nos situaremos em relações a tantos saberes que interferem em nossa produção. Se Hobsbawm, achou que o século XX foi brevíssimo, o que esperar de um, para o qual até a a mais nova novidade se torna obsoleta em semanas?

Sempre me pergunto e me preocupo se o que eu produzo efetivamente terá um fim prático em nosso mundo, ou será mais uma resma de papel a ser depositada na prateleira de alguma biblioteca. É redundante dizer que nós, historiadores de ofício, costumamos a falar somente para nós mesmos, como que para satisfazer a alimentar as fogueiras de nossas vaidades.

A HUMANIDADE AINDA PRECISA DE HISTORIADORES?

A meu ver, necessita de outros, não mais os mesmos que sempre fomos, ou ao menos, boa parte de nós, porque com raras exceções, até aqui, fizemos valer a confortavéis e acolhedora força do campo, conceito formulado por Bourdieu, para o qual nos acostumamos a dizer, “que assim seja, amém”!

Poucos ousaram ser historiadores para além dos protetores muros dos arquivos e universidades que sempre nos envolveram.

Se o mundo que vivemos é um mundo em travessias, que atravessemos também nossos próprios territórios e fronteiras; que cruzemos os limites de nossas possessões e de nossos cantos e canteiros para que dessa maneira consigamos enxergar os desafios postos por um tempo que impulsiona os usos do passado e da história para muito além de nossos limites.

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