Mude o Canal...
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Outro dia, eu estava passando pela praça XV, aqui no Rio de Janeiro, quando fui surpreendia pela figura daquele jornalista que faz as reportagens para o programa nada “reality” da Rede Globo. De longe eu observava algumas pessoas fugiam dele com medo de serem abordadas...
E eu, claro, procurei, imediatamente, o lado oposto de onde ele estava. Foi bastante preocupante me imaginar dando uma opinião sobre quem devia ficar na “casa mais vigiada do país”: se a Pri, o Leo, Nono, Naná, o Gu, a Fá? ...
Isso me fez pensar: Por que ainda existe esse programa depois de quase 10 anos¹?
O primeiro motivo que posso supor é o fato de ser muito lucrativo. Na atual versão, todos os produtos que o envolvem já foram vendidos e o lucro já é da casa dos 110 milhões, mesmo que audiência já não se mantenha com a mesma força.
O segundo e para mim, e o mais convincente, é que houve uma deteriorização crescente na programação dos canais de televisão aberta nas últimas décadas. Não se pode negar que programas que exploram a violência, o grotesco e que estimulam às pessoas a atitudes jocosas na frente das câmeras se tornou a grande cartada a partir dos anos 90. Programas cujo único fim é o de manter, custe o que custar, os melhores números ou os números possíveis do Ibop.
Em um mundo cada vez mais dominando pela proliferação em larga escala da informação e da indústria do lazer e do entreterimento, evento aprofundado quando a internet passou a rivalizar com as transmissões televisivas, explorar e criar situações nas quais não haja constrangimento possível e nehum limite de exposição pública se tornou saída para atrair audiência.
Temos o nosso próprio freak-show contemporâneo!
Tal qual acontecia nos espetáculos bizarros em fins do século XIX e início do século XX, quando pessoas eram presas em jaulas para serem observadas por suas deformidades físicas, criamos nosso próprio show de excentricidades cotidianas.
Mas em nossa época, auto-intitulada de “politicamente correta”, também nos satisfazemos com o culto à ridicularização pública. Estimulamos de bom grado a observação de pessoas presas em jaulas vidro dentro de shoppings, macaqueando para conseguir entrar em uma nova jaula.
Mas se você não estiver satisfeito, poderá assistir também a esposa ou o namorado de alguém se submetendo ao polígrafo para testa a sinceridade, ou ainda, o flagrante forjado da prisão de algum criminoso ao vivo; há ainda, no café da manhã, a repetição inédita e ilimitada da história de uma criança jogada pela janela. Contudo, caso você se encontre naqueles dias de tédio profundo, certamente, poderá encontrar o apresentador que lhe dirá em rápidas frases, extraídas de último e fundamental livro de auto-ajuda, vendido em uma livraria perto de você, o segredo para ser feliz. Não acredita?
Mude o canal!

1. o contrato fechado com a Endemol, empresa criadora do formato, prevê 10 anos, então, ao menos em 2010, ainda teremos outras “Pris e Patys e Leos”)

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