Eu sou fã da Lídia Brondi



Ontem foi aniversário da Lídia Brondi, com temor vi que muitos sites de “celebridades” lembraram disso, o que já demonstra que ela corre um sério risco de ser perseguida implacavelmente pelo fantástico.

Se você tem mais de trinta deve lembrar dela. Na minha adolescência, quase toda menina queria ser Lídia. Em papéis que sempre lhe destacavam a inteligência, simplicidade e beleza, era sempre sucesso garantido nas novelas em que atuava. Mas o que Lídia teve de melhor foi frustrar o grande circo que se organizou na década de 90 em torno das celebridades fulgurantes, superficiais e sem talento com o qual fomos brindados desde então. Lídia não era uma celebridade. Era uma atriz, coisa que hoje em dia se tornou um mero detalhe no grande show de bobagens e canastrices oferecidos na barulhenta feira de horrores que se tornou a televisão brasileira.

Nos últimos anos as novelas e programas de televisão perderam a capacidade de sensibilizar e estimular a imaginação. Isso porque vem se especializando sistematicamente em produzir e explorar o grotesco, o chocante o trivial por apostar que é mais fácil vender futilidade e violência do que talento e criatividade.

Lídia não precisou se submeter à devastação pública a qual, muitas atrizes e cantoras de sua geração aceitaram por acreditarem que é melhor estarem em evidência, mesmo de forma jocosa, do que serem esquecidas. 

Assim, assistimos suas vidas serem expostas e se tornarem espetáculos deprimentes. Fracassos amorosos, obsessões forever young no mundo malhação; as confissões públicas do mergulho nas drogas, as relações sexuais reveladas até os últimos detalhes na aposta de uma verdadeira potência da decadência. Devem imaginar que ao se tornarem objetos de comentários, risos e espanto, possam fazer disso um lugar de destaque na próxima novela da oito, de fórmula exaustivamente repetida ( Taí o Sr. Manoel Carlos que não nos deixar mentir), ou lançarem mais um CD (difícil vai ser a concorrência com Lady Gaga, que nome mais medonho! que me desculpem os fãs, mas tinha que colocar ir pra fora)

Lidia nos poupou também de ir a programas de auditório reclamar de que passa fome, que sua casa foi destruída, que vende coco, que está disponível a qualquer papel, que ama a rede Globo, que está incrivelmente apaixonada pelo seu novo namorado, mais jovem 30 anos e que certamente é o seu verdadeiro príncipe encantado, que pode, finalmente, casar em setembro, dizer porque sua filha é lésbica ou, simplismente, relatar sua felicidade com sua 32a. cirurgia plástica. 

Ufa!

Salve Lídia Brondi! 

Lídia, está lá ( não me perguntem onde, isso também não me interessa) vivendo sua vida, longe de tudo isso, e mesmo sem nenhuma palavra traz dignidade a esse incandescente mundo das obviedades!

Ps. Cuidado Lídia, que Patrícia Poeta não nos escute, caso contrário irá realizar uma verdadeira cruzada em sua busca, para exigir-lhe explicações!

Comentários

Rosilene Melo disse…
Adorei. Que bom que muitas pessoas, não só você, acredito, pensam da mesma forma. Chega de termos nossa casa, tv e internet invadida pelo lixo da vida pessoal de celebridades fúteis. Viva ao anonimato!!!
Isac disse…
O espetáculo incrustou-se de tal forma como parâmetro que mesmo o sair de cena é motivo de mais espetacularização. Todo excesso expõe uma falta. Deve ser isso que nos consome, a falta de algo efetivamente significante. Enquanto não chega (e parece estar cada vez mais longe) vale tudo.

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