20 anos depois que o muro caiu...Ilusão e perversidade. Esperança?
Muro da Cisjordânia que começou a a ser construído em 2002
A principal imagem que tenho do dia 9 novembro de 1989 é a do jornal nacional com seus repórteres, quase abraçados aos alemães comemorando a queda do muro. Na conjuntura política mundial, aquele momento foi considerado um símbolo para o fim da guerra fria, ou da bipolarização do mundo em norte-sul, capitalismo-comunismo. Foi o momento máximo de apologia ao mundo globalizado, unido, reunido, ou como diria o grande intelectual Milton Santos, da globalização como fábula.
Mas, talvez o que 1989 possa nos fazer pensar é sobre quantos novos muros foram erguidos desde então. Ao invés de uma bipolarização, vivemos agora o mundo da pluripolarização, embora esse conceito possa parecer um tanto estranho, penso ser o que melhor define o fechamento das potências mais ricas em blocos econômicos sociais, cujo fim principal é proteger suas próprias riquezas diante de uma humanidade que se deteriora cada vez mais.
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E por falar em muros, porque existe tanta complacência com Israel? Quantas nações se indignaram, quando em 2002, o país começou a erguer o muro da Cisjordânia para segregar palestinos em seus próprios territórios? Embora o Tribunal Internacional de Haia o tenha declarado ilegal em 2004, até agora não houve nenhuma pressão mais efetiva de outros países contra ele, tão pouco, contra o descumprimento legal feito por Israel que prevê o fim da construção do muro para o ano que vem.
Contraditoriamente, 20 após o Muro de Berlim ter vindo ao chão, assistimos o aprofundamento do processo de “muralização” difundida aceleradamente em várias partes do mundo. A cada ano, países como EUA e os membros da Comunidade Européia gastam bilhões de dólares no patrulhamento de suas fronteiras para evitar que imigrantes pobres cruzem os territórios que, mesmo quando conseguem, enfrentam, outras e talvez mais cruéis barreiras ficando relegados a guetos quase constituídos em micro-universos de subdesenvolvimento nas grandes e ricas metrópoles. Exemplo disso pode ser constatado no caso das revoltas que explodiram nos subúrbios de Paris em 2005 mostrando o fracasso na integração de outros povos naquela sociedade.
Sejam de concretos, como é o caso de Israel e daqueles em torno das comunidades carentes no Rio de Janeiro, ou simbólico materiais, como as condições de vida miseráveis aos quais estão submetidos povos em várias partes do mundo, o que a queda do mundo deve nos fazer lembrar é, que passados 20 anos, a humanidade potencializou e sofisticou formas de segregação que agora parecem ter se tornado muito mais eficazes, na medida em que não se apresentam ou, ao menos, não são reconhecidas como espaços de segregação que passam a ser cada vez mais naturalizados e consentidos em nosso cotidiano.
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