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Os Homens que a História não Amou

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(Uma leitura da Obra "O Homem que amava cachorros-Leonardo Padura) Essa semana Trotski morreu. Protelei ao máximo, mas como acontecimento já ocorrido e de conhecimento de todos, não pude evitá-lo. Finalizei a leitura da obra de Leonardo Padura.    Narrativa ficcional cuja densidade histórica nos leva a refletir sobre as profundas interconexões entre literatura e história.   Ao longo de semanas, apeguei-me aos personagens, às suas histórias de exílio, conflitos e perseguições.  No  caso de Trotski,  à sua luta tenaz para escapar à sanha stalinista. Mas Trotski também acreditou que em nome da utopia de uma sociedade sem classes de futuro glorioso, deveria se eliminar qualquer um que se interpusesse no caminho da revolução.  Assim, provou de forma perversa do próprio modelo que ajudou a erguer.   Por semanas estive em sua companhia, aliás, não só a dele, mas também na de seu algoz, Ramon Mercader, cuja mão, foi responsável em dar cabo de sua vida. Pelas páginas da obra de

A História sem tempo ou um tempo sem História?

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Na Anpuh de 2008 realizada em Fortaleza apresentei um texto cujo título era uma pergunta: “A Humanidade ainda precisa dos historiadores?” Lembro que no momento da minha apresentação alguns arqueares de sobrancelha lançavam sobre mim certa desconfiança, afinal, minha pergunta talvez tenha parecido retórica ou tola, pois qual de nós colocaria em dúvida sua importância. Meu questionamento pretendia investir sobre dois aspectos relevantes para nossa profissão: a constituição do campo da história, rotinas de trabalho e atuação política e social do historiador quando diversas áreas e profissionais circulam e produzem obras históricas vendidas aos montes em bancas de revistas e livrarias. Em segundo lugar, procurva interrogar sobre a produção historiográfica das últimas décadas e capacidade de reflexão e compreensão das mudanças sociais, políticas culturais que enfrentamos nesse princípio do XXI. Resumindo, questionava se nossa escrita estava sendo capaz de dar conta dos processos de

PINHEIRINHO: Nosso Distrito 9 é logo ali

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   Distrito 9 é um filme de ficção interessante. Sob vários aspectos nos faz pensar sobre algumas questões importantes do nosso tempo. Ao primeiro olhar, seu argumento pode até não ser um dos mais originais: uma nave de alienígenas caí na terra. Bem, até aí muitos filmes norte-americanos já se deleitaram com o tema. Todavia diferentemente deles, é na África que os estrangeiros se deparam com seu trágico destino. Digo trágico, porque doentes, famintos e sem ter como voltarem para casa é numa favela de Johanesburgo que encontram seu novo lugar de morada. Vivendo em condições miseráveis em casebres de madeira, sem saneamento ou assistência médica; segregados na região mais pobre dentro da pobreza, sobrevivem de trocas, pequenos delitos, ora sendo perseguidos pelos traficantes de armas locais, ora pelos agentes da segurança que tinham como principal função mantê-los sob controle no Distrito 9. O Distrito 9 de Johanesburgo era um gueto desprezado e odiado por todos ao seu redor.

O direito à eutanásia virtual: a síndrome do eterno presente e o desafio do esquecimento na era Google

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Uma matéria de hoje do jornal El País, colocou uma questão importante para pensarmos a interferência da internet, em particular dos buscadores, nos processo de lembrança e esquecimento na contemporaneidade. Intitulado " Un nuevo desafío: el derecho al olvido" a matéria trata do caso da ginasta Marta Bobo, hoje com 45, professora da Facultad de Ciencias del Deporte de la Universidad de A Coruña, ex-atleta olímpica, que em 1984 foi notícia exatamente no El País por, possivelmente, sofrer de anorexia, fato que estaria atrapalhando sua carreira naquele momento. Até aí nada demais, afinal, como uma matéria curta vinculada 26 anos atrás poderia influenciar ou prejudicar uma acadêmica reconhecida em seu meio? É provável que essa notícia jamais viesse a público, a não ser pela extrema curiosidade de alguém ou pelo acaso de alguma pesquisa sobre práticas esportivas, olimpíadas, etc..., realizada em qualquer das hemoreteca espanholas ou, quem sabe, de outro país que armazene o

Os aposentados da história e as armadilhas do passado reparado.

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Dos muitos absurdos que costumamos escutar diariamente em nome da “história” a divulgação de que algumas pessoas têm direito a aposentadoria por serem descendentes de “heróis” nacionais realmente causa espanto para não dizer constrangimento. Nas últimas décadas parecemos ter entrando em uma quase histeria de reparação do passado. Como se fosse possível o presente expiar todas as culpas das escolhas efetuadas por nossas sociedades ao longo da história. Em nome disso, um conjunto de políticas públicas têm se organizado tentando “restituir” aos mortos o que lhes foi usurpado, ao menos assim, seus descendentes teriam um pouco de reconhecimento histórico. Antes que os politicamente corretos avancem sobre mim e os mais radicais digam que sou contra as cotas, as minorias e aos direitos humanos, esclareço que me coloco efetivamente contra a uma idéia que o passado que pode ser reparado, e assim, se tenham resolvidos nossos problemas com a história. Ventilaria por demais nossas consciências!

11 de setembro: o novo acontecimento histórico dez anos depois. (parte 1)

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O mês de setembro desse ano será marcado por eventos que certamente lembrarão os 10 anos da queda o Word Trade Center. Embora o historiador não seja muito afeito a prognósticos, arrisco-me a dizer que assistiremos a uma profusão de celebrações que não deixarão esquecer a significação simbólica desse acontecimento para a história contemporânea. Ainda hoje suas imagens povoam com muita nitidez o universo de nossas recordações, não somente pela proximidade de tempo que temos com ele, mas sobretudo, pela profusão espetacular de sua divulgação, reprodução e reflexão que não pararam de ocorrer ao longo dessa década. A queda do imponente complexo empresarial inaugurou de forma dramática a passagem do século XX para o século XXI. Como se, naquele momento, efetivamente pudéssemos ter sentido, como em nenhum outro momento, a passagem do tempo. O grande diferencial desse evento, para outros que nos acostumamos a tipificar como histórico, talvez seja a radicalidade de sua experiência em termos

Nunca descansar, Nunca desligar... ou a síndrome de Funes

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Recentemente a Globo News fez 14 anos e lançou uma bem produzida campanha de marketing, cujo objetivo foi promover o próprio canal e sua atuação na produção da notícia. Sua a mensagem principal: “nunca descansar, nunca desligar”. Ações atribuídas ao próprio canal, como qualidades no meio em que atuam. Eu acrescentaria uma pergunta. Como agüentar? Ao assistir a propaganda, imediatamente me senti como Funes, o memorioso de Jorge Luis Borges. Como se naquele momento, também eu tivesse caído do cavalo e batido com a cabeça. Tal como Funes, senti-me castigada a nunca mais poder me distrair do mundo. Condenada a ver, olhar, ouvir, saber, ver, olhar, ouvir... Errante em um ciclo ininterrupto de eventos, notícias, informação, enfim. Como se cada um de nós fôssemos “o solitário e lúcido espectador de um mundo multiforme, instantâneo e quase intoleravelmente preciso”. Mundo no qual parecemos ter encontrado a fórmula mais sofisticada e complexa de aprisionamento e dependência: a produção il